Faustão e Branquinho logo depois de serem presos durante a ocupação do Complexo do Alemão: volta ao Rio Foto: Pedro Kirilos
Marcos Nunes e Marcelo Gomes
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Sem alarde, pelo menos 14 bandidos que estavam presos na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, já retornaram ao Rio. Pelo menos dois são acusados de fazer parte da cúpula do tráfico controlado por uma facção criminosa. A maior parte dos presos é acusada de envolvimento na onda de ataques que aterrorizaram a cidade no fim do ano passado, e que resultou na ocupação dos Complexos da Penha e do Alemão.
Entre os últimos que chegaram ao Rio, na terça-feira, estão Ricardo Severo, conhecido como Faustão, e Marcus Vinícius da Silva, o Lambari. O primeiro é acusado pela polícia de ser um dos responsáveis pelo controle do comércio de drogas no Complexo do Alemão. Já Lambari é apontado como o homem forte do tráfico no Jacarezinho.
Em 8 de junho, chegaram Fernando Buecker dos Santos, e Emerson Ventapane da Silva, o Mão, acusado de chefiar bondes do tráfico na Zona Norte.
Renan Fortunato do Couto, acusado de tentar atear fogo a veículos durante a onda de ataques, foi solto em 29 de abril, ao conseguir habeas corpus na 33ª Vara Criminal do Rio. Ele foi levado para o presídio Federal de Catanduvas em 25 de novembro do ano passado, junto com outros sete bandidos cariocas.
Pelo menos sete criminosos cariocas estão com sua documentação regularizada e vão permanecer no presídio federal no Paraná pelo menos até o fim deste ano. São eles: Márcio da Silva Lima, o Tola; Antônio Jorge Gonçalves dos Santos, o Tony Senhor das Armas; Wanderson da Silva Brito, o Paquito; Roberto Célio Lopes, o Robertinho do Vigário; Marcelo Tavares da Silva, o Marcelo Abóbora; Claudio Henrique Mendes dos Santos, o Chuca ou Dr. Santos; e Maury Alves Ribeiro Filho, o Cocó.
Atraso do TJ pode trazer mais bandidos
Assim como os traficantes Lambari e Neguinho, outros 17 bandidos podem voltar ao Rio por problemas na documentação. Segundo a Justiça Federal do Paraná, a Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio ainda não enviou os documentos referentes aos presos Luiz Carlos de Vargas Faneli, Fábio dos Santos Lima e Carlos Alberto Lobo. Isso pode fazer com que retornem.
Outros 14 bandidos, inclusive os traficantes Elizeu Felício de Souza, o Zeu; Tássio Fernando Faustino, o Branquinho; e Willian Rodrigues Ferreira, o Robocop, aguardam manifestação do Ministério Público Federal e/ou da Defensoria Pública da União para a homologação de suas transferências para Catanduvas.
Também estão nessa situação Anderson de Souza Ribeiro, Darley Vasques da Silva, Deives Dias Monteiro, Edson Gustavo de Souza, Flávio Cesar Cassemiro, Lázaro Gomes de Medeiros, Luciano de Freitas, Robson de Oliveira Júnior, e Márcio Cea de Paiva. Os nove pertencem a uma quadrilha especializada no golpe conhecido como Disque-Extorsão.
O governador Sérgio Cabral disse ontem à noite que traficantes presos em Catanduvas não retornarão ao Rio:
— Aqui, eles não ficam.
Segundo ele, a VEP e o Ministério Público estão tomando providências para impedir a volta dos criminosos.
— Isso é uma brincadeira de gato e rato que acontece desde 2007. O Rio foi o primeiro estado a transferir esses traficantes para presídios federais e não vamos permitir que retornem — disse.
Faustão não voltará para Catanduvas
O juízo da 32ª Vara Criminal do Rio, onde tramita o processo em que Ricardo Severo, o Faustão, é acusado de associação para o tráfico, não vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para provocar uma nova transferência do criminoso para o Paraná.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, Faustão voltou a pedido da própria 32 Vara Criminal. Se o bandido permanecesse no Paraná, isso poderia atrasar a realização de seu julgamento, já que o processo está em fase de conclusão.
Curiosamente, no mesmo processo também aparece como acusado Tássio Fernando Faustino, o Branquinho. No dia 30 de maio, o traficante ganhou da Justiça Federal do Paraná o direito de cumprir pena em um presídio carioca. No entanto, ele continua preso na Penitenciária de Catanduvas.
Manobra jurídica é usada pelo TJ do Rio desde 2009
Para forçar a volta dos traficantes Lambari e Neguinho para o presídio Federal de Catanduvas, o Tribunal de Justiça do Rio recorreu anteontem ao STJ, questionando a competência da Justiça Federal do Paraná para determinar a volta dos bandidos ao Rio.
Em sua decisão, a Justiça paranaense alegou que, há mais de seis meses, as autoridades do Rio não enviam a documentação que comprovasse a necessidade da manutenção da dupla no Paraná.
Entretanto, esta não foi a primeira vez que o TJ fluminense utilizou essa manobra para postergar a manutenção de bandidos cariocas em presídios fora do estado. Em 2009, o mesmo artifício jurídico foi utilizado para manter em Catanduvas 12 chefões do tráfico, como Lambari; Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel; e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.
Liminarmente, o STJ determinou que os traficantes permanecessem no Paraná até o julgamento do mérito do conflito de competência. Entretanto, a ação só foi analisada em 16 de maio deste ano, quando os bandidos já haviam sido transferidos para outros presídios federais, o que prejudicou o julgamento do mérito.
Recentemente, o TJ do Rio voltou a recorrer ao STJ contra determinações da Justiça Federal do Mato Grosso do Sul para a volta de traficantes cariocas presos na Penitenciária Federal de Campo Grande.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/catorze-bandidos-presos-durante-ocupacao-dos-complexos-da-penha-do-alemao-ja-estao-no-rio-2047876.html#ixzz28F1p8MGO