Os policiais, que ocupavam uma viatura do 24º BPM(Queimados), foram atender a um chamado de moradores contra música alta, quando foram atacados. A viatura ficou perfurada. PM diz que dará resposta a altura da audácia empreendida pelos marginais. Enquanto isso, Chefia de Polícia Civil esvazia a 50ª DP retirando três delegados.
Por Jorge Lopes
A audácia dos traficantes voltou a prevalecer ontem quando três deles, que participavam de um baile funk proibidão patrocinado pela facção criminosa TCP (Terceiro Comando Puro), atacaram a tiros os ocupantes de uma patrulha do 24º BPM(Queimados), no final da madrugada de ontem em uma rua do bairro do Engenho. Um dos policiais levou cinco tiros, enquanto que o colega recebeu três. Tudo indica que tenham sido vítimas de uma emboscada, acreditam os policiais que estiveram no local. Este é o terceiro ataque a PMs em Itaguaí no espaço de três meses.
De acordo com o capitão Fernando Barbosa, comandante da 5ª Cia, responsável pelo patrulhamento no município, os PMs Fabiano Gomes Masseran e Edson Fernandes da Silva, ocupavam a viatura de prefixo 54-5384, quando foram acionados pela sala de comando da corporação para que fossem até a Rua Manoel Santos, próximo à Rua 44. Segundo descrição de pessoas, que preferiram não se identificar, no local estava sendo realizado um baile funk onde a música alta e estridente, contendo letras pornográficas e de alusão à bandidagem, os chamados “proibidões”, incomodavam a vizinhança.
A versão não foi confirmada pela PM, que disse ter recebido informações de que desconhecidos estariam em um carro ouvindo som muito alto. Os PMs Gomes e Fernandes chegaram ao local pouco depois das 3 horas da manhã, quando foram surpreendidos com vários tiros que vinham na direção da viatura. Os tiros, mais de dez, eram desfechados por três homens que estavam escondidos em uma parte escura da rua.
Os primeiros tiros estouraram o para-brisas traseiro da viatura, um Renault novinho, integrado recentemente à frota do 24º BPM, pelo governador Sérgio Cabral. Os tiros, segundo descreveram os policiais, eram de pistolas calibre 9 milímetros. Pelo rádio da viatura ainda tiveram tempo de solicitar reforço, enquanto os marginais empreendiam fuga. O cabo Gomes, por exemplo, foi alvejado por cinco tiros, sendo que um deles atravessou o para-brisas traseiro da viatura, perfurou o encosto de cabeça do banco, e atingiu o parte da nuca e atravessou sua a boca. Os outros tiros atingiram o braço e a barriga policial.
Comandante da viatura, o cabo Fernandes teve mais sorte, por assim dizer, pois foi atingido por três tiros. Mesmo baleados, os policiais manobraram a viatura, também perfurada por outros tiros, indo buscar ajuda no Hospital Municipal São Francisco Xavier, no Centro. Depois de medicados, os policiais foram transferidos para o Hospital da Polícia Militar, no Rio, onde se encontram internados. O estado de saúde do cabo Gomes inspira cuidados. A caneta de ferro usada por pelo cabo Fernandes, no bolso da farda, o teria salvado de levar um tiro no peito, mesmo de colete a prova de balas.
Retaliação
O capitão Fernando Barbosa disse que os policiais baleados encontram-se fora de perigo, e diz que a atitude dos marginais fora uma retaliação ao trabalho que vem sendo desenvolvido pela Polícia Militar em toda a região. “Sem dúvida foi uma retaliação ao serviço que estamos realizando para acabar com o tráfico de drogas na cidade”, acrescentou.
Os traficantes estariam escondidos dentro de um matagal, de onde saíram atirando nos policiais.
Ação do bonde
O capitão (na época tenente) é o mesmo policial que em 20 de setembro passado enfrentara parte do “bonde” formado por traficantes do Morro do Juramento, no Rio, que tinham vindo para Itaguaí se instalar em locais dominados pelo TCP. O mesmo bando atacara a tiros uma viatura do 27º BPM(Santa Cruz), momentos antes, na entrada da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), matando os dois ocupantes, dentro do portão de acesso da Avenida João XXIII. Morreram na ocasião o sargento Antônio Bezerra de Assunção, de 52 anos, e o soldado Alex Alves da Silva, de 34 anos.
Parte do bando trocaria tiros com os PMs do 24º BPM(Queimados) às margens da Rodovia Rio-Santos, na localidade de Vila Margarida. O oficial chegou a ser ferido levemente. Um dos carros usados pelos traficantes, o Honda Fit, de placa KWZ 4491, cinza grafite, que era ocupado por três marginais foi abandonado na fuga.
Os bandidos conseguiram fugir, deixando para trás 5 mil sacos para embalagem de cocaína, um quilo de maconha, rádios transmissores, dois carregadores de fuzil 762 – o mesmo utilizado pelo Exército americano na guerra do Iraque – e 1.311 papelotes de cocaína.
“Sub-chefe” do tráfico, preso
Considerado o número dois na hierarquia da quadrilha que aterroriza o bairro do Engenho, Léo Perequê, junto com comparsa, menor de idade, conhecido por Índio, no dia 24 de agosto, tinham sido presos por agentes do Setor de Inteligência da 50ª DP (Itaguaí). Os dois ocupavam um Fiat Uno, de placa clonada LPQ 8194, do Rio de Janeiro, quando foram interceptados em frente à Escola de Música Chiquinha Gonzaga, situada na Rua Amélia Louzada, no Centro da cidade.
Perequê é acusado pela polícia de promover o terror no bairro do Engenho, conhecido por sua atitude sanguinária na eliminação desafetos, como descreveram testemunhas que compareceram na delegacia. Pelo menos cinco mortes eram atribuídas a ele.
Ataque à escola
O mesmo TCP é acusado de ser o responsável pela invasão ao Colégio Cenecista Luiz Murat, onde praticaram atos de vandalismo e roubo. Destruíram computadores e roubaram celulares, deixando nas paredes a inscrição TCP.
Aguardando denúncias
O capitão Barbosa disse que a localidade onde ocorreu a emboscada é dominada pelo traficante Cabal, que está sendo procurado. Ontem, vários agentes do Serviço Reservado (P-2) percorreram o bairro a procura da quadrilha. Ele acredita que nas próximas horas a PM dará uma resposta certeira ao ataque em que foram vítimas os policiais do 24º BPM. E pede que a população ajude na caçada aos traficantes e autores do atentando, denunciando anonimamente para os telefones do 24º BPM, que são: 2687-9191 e 2779-9863 (este último da P-2).
Esvaziamento
Nem mesmo o crescimento da violência em Itaguaí fez com que a Chefia de Polícia Civil adotasse uma postura de combate efetivo à criminalidade, e ontem, foi publicado no Diário Oficial (D.O.) do estado a desativação da Central de Flagrantes situada na 50ª DP(Itaguaí), que atendia aos municípios de Itaguaí, Seropédica, Paracambi e Japerí. A delegacia só irá atender os flagrantes da cidade até às 18 horas. A partir desse horário a população terá que procurar ser atendida na 56ª DP (Comendador Soares) e na 58ª DP (Posse), distante mais de 30 quilômetros de Itaguaí.
A chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, retirou da delegacia três delegados adjuntos, permanecendo apenas um titular e um delegado adjunto.
Fonte: Jornal atual
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